Desde a morte de meu pai e uma avalanche de entusiasmos negativos que não me relaciono com ninguém; - evitando pessoas. É isso! - Questões emotivas desligaram meus desejos e as minhas vontades de homem. Uma fase que a psicóloga garantiu: “vai passar”. Não queria cortejar, galantear ou mostrar-me hábil para amizades, aliás, nunca fui de possuir amigos. Sou amigo de meus versos! E acho que estava e ainda estou voltado para o trabalho e ao meu filho, ou às questões legais para obter o seguro pela tragédia que aconteceu ao meu pai; - manter alimentos na mesa e as contas pagas fizeram-se prioridades diante de um desgoverno federal amaldiçoado pela ignorância. Só não contava que a ocasião e as eventualidades fariam de um momento um novo aprendizado; - sim, uma ocasião eventual: - estava estacionado em um bairro próximo a uma comunidade. Sentado no banco do carro, observo uma moça vindo em direção a mim; - era bonita, cútis branca, cabelos pretos, curtos; esbelta com suas roupas justas carimbavam um corpo com contornos que, de fato, havia me lembrado uma mulher com quem já fiquei e gostei muito! Passa ao lado do veículo, olhou-me e já lhe dei um bom dia com um olhar que uma mulher compreenderia uma intenção de paquera, se é que me entendem! - Ela parou, olhou dentro do carro, buscou minha fisionomia e sorriu: “- moço, sou garota de programa e preciso pagar o meu aluguel; você quer fazer bem gostoso comigo? Sou carinhosa!” - Jamais esperaria esse tipo de contato.... dei um sorriso labial envergonhado e reparei que seu braço direito era um pouco menor que o esquerdo, tinha uma certa atrofia. Observei em sua barriguinha branca um piercing no umbigo, seios arredondados e suculentos com um sorriso acolhedor que fazia tempo que não via....
Sempre digo que se desligássemos o bom senso moral e começarmos a agir pelos instintos, voltamos a uma certa regressão ética; - observei aqueles olhos negros bonitos e esperançosos, um riso levemente tímido; - olhei seu sexo, coxas e seu rosto cintilado pela expectativa: aceitei o programa! - O valor foi algo irrisório, mas pensei em meu senso pagar-lhe mais dinheiro, ajustando o valor ao “trabalho” completo, já que disse que estava fazendo pela metade do que realmente cobrava!
Ela entrou no carro. Indicou um motel na região e segui dirigindo!
Após uma breve conversa no caminho, fiquei sabendo que era mãe e morava com o irmão que não sabia que fazia programas; - pedi um quarto para ficar uma hora. Entramos. Pedi pra tomar um banho; ela disse que já havia tomado! Nos despimos. Estava bem natural e obviamente acostumada com isso! Havia uma certa naturalidade estranhamente inocente. Era realmente muito bonita; cheguei perto dela, vi seu braço mais curto, tentei tocar em seu corpo; cheirava bem. Uma vagina linda! Deitou-se na ponta da cama e se abriu para a relação. Disse-me que seu braço, após eu ter olhado algumas vezes, era resultado de nascença e que já havia tido uma paralisia cerebral; - tentei não me ligar ou pensar nisso; - fazia tempo que não ficava com uma mulher e reparei que ela não havia tirado o sutiã... Cheguei por cima dela acariciando seus seios e tentando tirá-lo; - ela segurou a minha mão. Disse que estava amamentando e que seus seios estavam com proteção. Eu insisti. Ela disse que não tinha muito tempo pra ficar. Tentei não me ligar à sua condição; busquei os seios novamente; - ela insistiu que não, mas tirou o sutiã e removeu também a proteção de um dos mamilos; protegia os bicos e as aréolas, contudo, disse que poderia ficar com apenas um. Não sei o que me deu, o que se passou naquele instante e perguntei o nome de seu filho e se estava com o pai. - Relatou que a criança não conhecia sua paternidade. Foi um programa que havia feito e o cliente havia tirado a camisinha.
Por um momento lembranças do meu filho transbordaram daquele instante e fizeram a não me conceder o toque naqueles seios, naquela mulher... Fiquei com um certo remorso e pena e perdi qualquer intenção de sexo ganhando uma situação reflexiva. Parei o programa! “Mas você vai pagar, né?” - “Claro que sim”, respondi!
Não falamos muito após contar sobre o filho; disse a ela que sentia muito; - colocamos a roupa, paguei o programa completo, entramos no carro, saímos do motel e ela desceu logo em seguida. Uma tristeza e um arrependimento gritaram em minha natureza de homem; tentáculos imaginários vinham da terra e grudavam em meu pescoço tirando a respiração e fazendo-me calar um choro que abafei; - afastou-se do carro e pude observar pelo espelho que ela levemente mancava com um andar mais rápido do que quando vinha em direção ao carro no início.
Pus-me a dirigir envergonhado comigo e com os olhos irrigados de melancolia; queria naquele momento que o chão se abrisse em uma fenda e me engolisse; o dia ensolarado, nublou. A respiração ficou ofegante e gradualmente faltava ar na busca da oxigenação de meu corpo diante desse processo de consciência.
Dirigia para a casa e tenho uma leve impressão de que até hoje, não cheguei!
(DGC) 2021